terça-feira, 20 de abril de 2010

O QUE FAZER: VIVER O MUNDO DA RELIGIÃO OU O DA ESPIRITUALIDADE?

Caros amigos do Blog e demais leitores, recebi por e-mail de um nobre amigo o texto abaixo e fiquei muito sensibilizado pela reflexão que ele contem que nós faz pensar muito sobre nossas práticas reliosas na atualidade. Não é um texto para julgar pessoas, mas para apreender e refletir quanto a diferença entre ser religioso e viver a religião. Disponho o texto neste espaço para a reflexão de todos.


Numa visita ao Lar Espírita Mensageiros da Luz, que cuida de crianças com deficiência cerebral para entregar ovos de Páscoa. Uma parte dos atletas, jogadores dos Santos, entre eles, Robinho, Neymar, Ganso e Fabio Costa, se recusou a entrar na entidade e preferiu ficar dentro do ônibus do clube, sob a alegação que são evangélicos.


Os meninos da Vila pisaram na bola. Mas prefiro sair em sua defesa. Eles não erraram sozinhos. Fizeram a cabeça deles. O mundo religioso é mestre em fazer a cabeça dos outros. Por isso cada vez mais me convenço que o Cristianismo implica a superação da religião, e cada vez mais me dedico a pensar nas categorias da espiritualidade, em detrimento das categorias da religião.

A religião está baseada nos ritos, dogmas e credos, tabus e códigos morais de cada tradição de fé. A espiritualidade está fundamentada nos conteúdos universais de todas e cada uma das tradições de fé.

Quando você começa a discutir quem vai para céu e quem vai para o inferno, ou se Deus é a favor ou contra à prática do homossexualismo, ou mesmo se você tem que subir uma escada de joelhos ou dar o dízimo na igreja para alcançar o favor de Deus, você está discutindo religião. Quando você começa a discutir se o correto é a reencarnação ou a ressurreição, a teoria de Darwin ou a narrativa do Gênesis, e se o livro certo é a Bíblia ou o Corão, você está discutindo religião. Quando você fica perguntando se a instituição social é espírita kardecista, evangélica, ou católica, você está discutindo religião.

O problema é que toda vez que você discute religião você afasta as pessoas umas das outras, promove o sectarismo e a intolerância. A religião coloca de um lado os adoradores de Allá, de outro os adoradores de Yahweh, e de outro os adoradores de Jesus. Isso sem falar nos adoradores de Shiva, de Krishna e devotos do Buda, e por aí vai. E cada grupo de adoradores deseja a extinção dos outros, ou pela conversão à sua religião, o que faz com que os outros deixam de existir enquanto outros e se tornem iguais a nós, ou pelo extermínio através do assassinato em nome de Deus, ou melhor, em nome de um deus, com d minúsculo, isto é, um ídolo que pretende se passar por Deus.

Mas quando você concentra sua atenção e ação, sua práxis, em valores como reconciliação, perdão, misericórdia, compaixão, solidariedade, amor e caridade, você está no horizonte da espiritualidade, comum a todas as tradições religiosas. E quando você está com o coração cheio de espiritualidade, e não de religião, você promove a justiça e a paz. Os valores espirituais agregam pessoas, aproxima os diferentes, faz com que os discordantes no mundo das crenças se dêem as mãos no mundo da busca de superação do sofrimento humano, que a todos nós humilha e iguala, independentemente de raça, gênero, e inclusive religião.

Em síntese, quando você vive no mundo da religião, você fica no ônibus. Quando você vive no mundo da espiritualidade que a sua religião ensina – ou pelo menos deveria ensinar, você desce do ônibus e dá um ovo de páscoa para uma criança que sofre a tragédia e miséria de uma paralisia mental.

Autor: Ed René Kivitz, cristão, pastor evangélico, e santista desde pequenininho.

segunda-feira, 29 de março de 2010

BBB 10 É SÓ UM MERO ENTRETENIMENTO SOCIAL?

O entretenimento mais discutido no momento e menos indicado para o desenvolvimento cristão e para o avanço positivo da democracia brasileira no que tange a formação de valores está chegando ao fim (BBB10) e deixando muitas dúvidas, incertezas e questões. É inegável o sucesso econômico-financeiro para os seus criadores, veiculadores e patrocinados, mas e os efeitos desse programa para a sociedade em geral, pois a mesma acabou por se envolver de alguma forma, seja participando ou ouvindo?
Se observarmos atentamente o jogo como um todo e a diversidade dessa edição do BBB (BBB10), podemos concluir que a Rede Globo, mesmo querendo se descolar da imagem negativa veiculada pelos participantes ao emitirem suas pseudo-verdades segregadoras, homofóbicas, machistas e perigosas para a formaçao do público geral, perdeu um dos momentos mais importante para empreender um estilo formativo e informativo ao público, favorecendo uma ampliação eficiente e positiva do debate referente a diversidade sexual, sobre a diferença de gêneros e preconceitos. Muitas dúvidas ficaram, ao meu ver, no inconsciente coletivo: a primeira quanto ao processo de edição do programa em todo o processo, a segunda, quanto a manipulação editorial veiculada para os não visualizadores de canais fechados, a exemplo do Multishow, por parte dos produtores. A terceira, quanto a escolha de quem os diretores e patrocinadores desejavam que vencesse o jogo, deixando aqui manifestado que o programa deveria ter como príncipio a máxima neutralidade frente ao jogo. Existem muitas outras dúvidas, mas essas se sobressairam ao meu ver.
As incertezas estão relacionadas com os efeitos psico-sociais e aos avanços empreendido pelo programa em questão referente a causa GLBT e Direitos Humanos. Se pudéssemos observar no todo as conversas de butequins, churrascos, roda de amigos, em filas de qualquer espécie, em cada esquina desse Brasil sobre o BBB10, iríamos notar um forte manifestação de preconceito generalizada e até corroborada por falas e manifestações no programa. Será que houve uma significativa influência do programa e dos participantes para desencadear isso? E se esse preconceito era anteriormente previsível ou até mesmo previsto durante as falas dos participantes porque a emissora não se preocupou, eficazmente, em imprimir um forte controle legal e psicológico dos participantes? Será que deve-se controlar somente violências físicas ou deve-se controlar também as violências simbólicas de efeitos profundos?
Quanto às questões, algumas se sobressaem: deve o Ministério Público fiscalizar o programa BBB e seus produtores? Deve a emissora cuidar melhor da edição de cada epsódio que vai ao ar em próximas edições? Como fica a imagem do homossexual, aqui visto genericamente, a partir desse BBB10? Será que a homossexualidade é "ROSA" ou é multifacetada, pois nem todo homossexual tem seu referencial no "ROSA" a exemplo de Homossexuais travestidos de Héteros e manifestadamente homofóbicos no seio de nossa sociedade. Quantos já não bateram, ofenderam, espancaram e até mataram homossexuais por causa da não aceitação da sua própria sexualidade? Quantos, em nome da fé religiosa, não ofenderam a dignidade de outrem por causa da orientação sexual, esquecendo que Cristo, nos evangelhos, não faz segregação, divisão, mas prega a acolhida, vida e o amor ao próximo. Será que devemos amar ao próximo só quando esse próximo pactua com minhas crenças e valores? Será que é essa a melhor interpretação da máxima cristã: amai-vos uns aos outros?
Ah você, leitor desta humilde divagação intelectual, pode dizer: "eu não sou cristão". Então vamos pensar nos passos, exemplos e mensagens humanitárias deixados por Chico Xavier, Ghandi, Luther King, Budha, Nelson Mandela, Sócrates, entre outros para a ser humano. Todos eles deixaram mensagem de crença nos valores positivos da humanidade, pediram respeito, paz, harmonia e defenderam direitos de todos de existirem e serem felizes, defenderam mais acentuadamente os direitos de minorias castradas em seus interesses e direitos.
Não adianta dizer que esse é apenas um jogo, um entretenimento, um programa comum de diversão social, ele é sim um veiculador de valores, disseminador de idéias e formador de opiniões. Tanto é que tem um respaldo técnico-jurídico por trás do programa. Assim, fica aqui o meu desejo de que edições futuras do BBB sejam mais bem elaborados, controlados e fiscalizados e que a sociedade possa se divertir-se, informar-se e formar-se de forma mais interessante, positivamente e que os valores mais imperiosos para o bem da coletividade, possam ser máximas defendidas por um dos maiores veículos de informação do Brasil que é a Rede Globo. Cada pessoa que pagou para assistir, para veicular pensamento e mensagens merecem mais que entretenimento, merecem dignidade, respeito e valoração de cada um mesmo que diferente.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Distrito Federal - um ente preste a ter falência múltipla de órgãos

Brasília era para ser, na sua concepção e históricamente, uma cidade-símbolo de modernidade, inovação tecnológica, de esperança, modelo de qualidade de vida, capital dos avanços nacionais, modelo de justiça e moralidade. Hoje o que vemos na realidade é um ente (orgão) federativo em pleno sangramento em suas bases intitucionais administrativas e legislativas com respaldo de parte da iniciativa privada (empresarial), amparados por uma parcela da população que só entende de política quando tem arroz, leite, gáz, feijão em casa por ter vendido o voto ou por ter recebido lotes destes mesmos virus políticos, vemos o modelo de gestão mais anti-ético sendo propagado como algo virtuoso, percebemos pessoas que se dizem preocupadas com o social agindo pelo pessoal e de forma vil.
Observe atentamente o que está ocorrendo e no final desse enredo, todos nós teremos a chance de sermos exímios jogadores de xadrez, pois os principais envolvidos nesse escandalo do mensalão do DEM, estão insistentemente agindo com pseudo-jogadores de um xadrez muito questionável e duvidoso. Jogar xadrez é uma arte e não uma sacanagem a céu aberto.
Por onde quer que olhemos, ouvimos e andemos só se tem uma realidade: o sangramento da Democracia, da Lei Orgânica e do Bem Comum, o sangramento do Distrito Federal, mais amplo que isso, o desrespeito aos valores maiores da Constituição Federal e do valor que tem o nosso País.
A sensação que temos é que uma hemorragia que já sangrava lentamente no seio deste ente federado, agora está tendo falência múltipla de seus orgãos e se faz necessário uma intervenção cirúrgica radical: a Intervenção Federal. Se não existe interesse político distrital, local em curar o ente que sofre, tem-se que, via esfera judiciária federal e Administração Pública Federal, agir prontamente para levar o paciente a um pronto restabelecimento. E não adianta medidas pontuais e paliativas para tal.
Não podemos aceitar que as coias aconteçam sem nenhuma resposta pronta, eficiente e eficaz rumo ao restabelecimento da ordem.
Até quando vamos pactuar com o burlamento da lei e apoiar deputados que deveriam participar de licitações e são contratados por fora para receberem verbas públicas para satisfazer necessidades da administração pública e acabam tendo enriquecimentos elícitos? Até quando veremos esses deputados assumindo cargos na Câmara Distrital, na mesa diretora da casa e em comissões sem terem condições éticas para tal? Até quando vamos aplaudir políticos que oram em nome de Deus agradecendo propinas e falcatruas?
Nas próximas eleições renove a casa observando melhor a vida pregressa do candidato. Verifiquemos se ele tem ficha suja ou nao e se ele tem projeto político capaz de ser viabiliado em prol da comunidade.
Nós podemos mudar e isso aqui não é uma ilha dos prazeres para poucos e nem um paraíso de bandidos. Aqui não é curral eleitoral amigos.
Até os próximos eventos desse saga funeralesca.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Filosofando sobre o BBB 10

Muita gente diz que não assiste ao BBB, mas será mesmo?
Fico observando os tentáculos midiáticos e de chegada até o espectador ou pretendente a tal de programas como este e acabo por perceber que assitimos a espetáculos circenses televisivos de alguma forma até mesmo sem percebermos, seja assistindo a programas em horários nobres ou por canais pagos, seja por meio de anúncios e chamadas em diversos canais de comunicação: internet, intervalos de programas televisívos, jornais, programas de rádio, canal predileto na TV por assinatura, jornais impressos, twitters, blogs, conversas de butequin, entre amigos e familiares, etc. Tem-se a impressão de que não podemos estar tão alheio a este programa como pensamos poder estar. O que podemos fazer perante a gigantesca invasão de nossa privacidade com o BBB? Não sei se tem uma fórmula pra isso, porém aqui vai uma sugestão: o mais importante não é deixar de ser epectador de alguma forma, pois parece improvável a não ser que, como pregava tendências gregas de um viver diferenciado a exemplo do ascetismo, evitemos o contato com o mundo e nos isolemos de qualquer influência informátiva de nosso tempo e seus meios de informação e des-informação o que parece ser improvável na era atual. Acredito que devemos, sim, é olhar para os fenômenos e eventos do nosso tempo de uma forma criteriosa, crítica, autônoma e emancipada, deconstruindo conceitos, formas e conteúdos para que possamos compreender as causas, a dimensão, o alcance e os efeitos do fenômeno, no caso o BBB, para podermos traçar um pensar aprofundado, coerente e sério sobre tal assunto.
Será que o vilão é o BBB em si ou será que não é a ausência de um pensar crítico sobre o mesmo que o faz ser uma ferramenta tão forte nas mãos de marqueteiros, donos de emissoras e rádio, publicitários, donos de investimentos de capitais e outros mais, frente ao controle de emoções, linguagens, valores, regras e normas de condutas sociais? Será que a eudcação brasileira propicia a um pensar crítico, autônomo e aprofundado? Devemos valorar, nossa época, é o fenômeno em sí ou as redes de conexão ligadas ao fenômeno? Numa era de globalidade informacional e formacional e de influência complexa, como devemos nos enxergar e enxergar o outro a partir de programas como este?
Se você é ou não um fã do BBB, não deixe de pensar sobre o mesmo...pois alguém do seu lado pode estar sendo influenciado pelo mesmo como milhões de outros. Pense nisto.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Aristóteles - O mundo da experiência, as quatro causas, ética e política

UOL Educação - Filosofia - 21/09/2006

http://educacao.uol.com.br/filosofia/ult3323u40.jhtm


Adorno: Educação e Emancipação

Adorno: Educação e Emancipação

Nildo Viana (1)

Resumo: Para Adorno, a educação deve, simultaneamente, evitar a barbárie e buscar a emancipação humana. Ele questiona a educação autoritária e pensa uma educação emancipatória, mas, ao não apresentar um projeto de transformação social global, deixa de lado uma compreensão da totalidade da sociedade repressiva e realiza um isolamento do processo educacional, atribuindo a ele um papel transformador que dificilmente pode realizar isoladamente.


Na história do pensamento educacional contemporâneo, Theodor Adorno é um nome de destaque. Nosso objetivo no presente texto é expor a concepção de educação de Adorno de forma crítica, visando resgatar, simultaneamente, suas contribuições e seus limites.

Adorno analisa a educação a partir dos conceitos de barbárie e emancipação (Adorno, 1995). Ele tem como preocupação fundamental a questão da barbárie. Adorno define a barbárie da seguinte forma:

“Suspeito que a barbárie existe em toda a parte em que há uma regressão à violência física primitiva, sem que haja uma vinculação transparente com objetivos racionais na sociedade, onde exista portanto a identificação com a erupção da violência física. Por outro lado, em circunstâncias em que a violência conduz inclusive a situações bem constrangedoras em contextos transparentes para a geração de condições humanas mais dignas, a violência não pode sem mais nem menos ser condenada como barbárie” (Adorno, 1995, p. 159-160).

Adorno identifica barbárie e nazismo, pois este seria um caso de manifestação da barbárie. Durante o nazismo, a violência física se torna algo banal, e as pessoas passam a se identificar com ela, mesmo ela estando desvinculada de objetivos racionais.

O papel da educação, tal como visto por Adorno, é impedir a volta da barbárie, isto é, o retorno do totalitarismo, do nazismo. Este retorno é uma possibilidade existente e é justamente por pensar assim que a preocupação de Adorno se centra na questão da barbárie. As condições histórico-sociais que engendraram o nazismo ainda existem e por isso é preciso impedir o seu ressurgimento. Se a possibilidade do retorno da barbárie existe, então a educação assume um papel importante no sentido de prevenir e impedir tal retorno. A preocupação de Adorno é em evitar a barbárie.

“Qualquer debate acerca das metas educacionais carece de significado e importância frente a essa meta: que Auschwitz não se repita. Ela foi a barbárie contra a qual se dirige toda a educação. Fala-se da ameaça de uma regressão à barbárie. Mas não se trata de uma ameaça, pois Auschwitz foi a regressão; a barbárie continuará existindo enquanto persistirem no que têm de fundamental as condições que geram esta regressão” (Adorno, 1995, p. 119) .

A análise de Adorno mostra uma forte influência de Freud e sua concepção sobre o processo civilizatório (Freud, 1978a). Freud coloca que a civilização produz e reforça o anticivilizatório. Adorno parte desta tese e afirma que esta tese freudiana é fundamental para se realizar uma reflexão sobre Auschwitz e tentar evitar o seu retorno.

Mas, na atualidade, evitar o retorno da barbárie é extremamente difícil através da alteração dos pressupostos objetivos, que geraram e são as condições de possibilidade do nazismo. Diante deste quadro, Adorno justifica sua posição segundo a qual a ênfase deve recair sobre os aspectos subjetivos. Quais são estes aspectos subjetivos? São aqueles que remetem à psicologia dos envolvidos no holocausto, mas não nas vítimas e sim nos perseguidores:

“É preciso buscar as raízes nos perseguidores e não nas vítimas, assassinadas sob os pretextos mais mesquinhos. Torna-se necessário o que a esse respeito uma vez denominei inflexão em direção ao sujeito. É preciso reconhecer os mecanismos que tornam as pessoas capazes de cometer tais atos, é preciso revelar tais mecanismos a eles próprios, procurando impedir que se tornem novamente capazes de tais atos, na medida em que se desperta uma consciência geral acerca destes mecanismos. Os culpados são unicamente os que, desprovidos de consciência, voltaram contra aqueles o seu ódio e sua fúria agressiva. É necessário contrapor-se a uma tal ausência de consciência, é preciso evitar que as pessoas golpeiem pra os lados sem refletir a respeito de si próprias. A educação tem sentido unicamente como educação dirigida a uma auto-reflexão crítica. Contudo, na medida em que, conforme os ensinamentos da psicologia profunda, todo caráter, inclusive daqueles que mais tarde praticam crimes, forma-se na primeira infância, a educação que tem por objetivo evitar a repetição precisa se concentrar na primeira infância”(Adorno, 1995, p. 121-122).

Assim, na perspectiva de Adorno, a primeira infância assume papel primordial. Embasado na psicanálise freudiana, Adorno afirma que a formação do caráter do indivíduo ocorre durante a primeira infância. O processo civilizatório provoca uma pressão e um sentimento de claustrofobia que é exasperado num mundo administrado. Isto provoca uma busca em superar isto e a violência é uma das formas como se tenta concretizar tal “fuga da civilização”.

Tendo em vista, segundo Adorno, que quanto mais intensa é a repressão, mais intensa também será a recusa da repressão, a tendência é de haver aumento da “raiva contra a civilização”, e ações irracionais contra ela. A civilização gera anticivilização, um processo de integração e ao mesmo tempo de desintegração ou, como diz Adorno, “desagregação”.

Porém, a violência não pode atingir a civilização em sua totalidade e por isso são eleitos alguns segmentos no seu interior e estes geralmente são os mais fracos e, muitas vezes, considerados (independentemente de tal consideração ser verdadeira ou falsa) felizes.

Assim, Adorno fornece grande importância ao que ele denominou “educação após Auschwitz”, que teria, segundo ele, dois aspectos. Um seria a educação durante a primeira infância e o outro ao processo de esclarecimento da população, que seria um processo abrangente e geral que criaria um clima cultural e social que seria um obstáculo para a repetição da barbárie. É neste contexto que Adorno critica a tese que aponta para a necessidade de “recuperar a autoridade” ou a realização de um “compromisso”, e nem se trata, também, de se limitar ao caso alemão, que pode até contribuir para a explicação do fenômeno nazista naquela época mas não tem um papel relevante para evitar o retorno da barbárie. Ao evitar estas “soluções” Adorno revela sua posição:

“O que a psicologia profunda denomina superego, a consciência moral, é substituída no contexto dos compromissos por autoridades exteriores, sem compromisso, intercambiáveis, como foi possível observar com muita nitidez também na Alemanha depois da queda do Terceiro Reich. Porém, justamente a disponibilidade em ficar do lado do poder, tomando exteriormente como norma curvar-se ao que é mais forte, constitui aquela índole dos algozes que nunca mais deve ressurgir. Por isto a recomendação dos compromissos é tão fatal. As pessoas que os assumem mais ou menos livremente são colocadas numa espécie de permanente estado de exceção de comando. O único poder efetivo contra o princípio de Auschwitz seria a autonomia, para usar expressão kantiana; o poder para a reflexão, a autodeterminação, a não-participação”(Adorno, 1995, p.124-125).

No entanto, existem inúmeros obstáculos para a realização desta proposta e Adorno percebe várias delas: o campo e sua oposição à cidade, a inclinação para a violência nas grandes cidades e as pessoas com “traços sádicos reprimidos” morando nelas, bem como relações existentes em esferas sociais específicas, tal como o esporte, que produzem uma tendência para a regressão. Isto tudo está relacionado com a velha estrutura social estreitamente ligada à autoridade e ao caráter autoritário. Mas Auschwitz foi possível devido à identificação cega com o coletivo e o preparo para manipular as massas e coletivos. Trata-se da concepção tradicional de educação, voltada para a severidade, a repressão do medo e para o caráter manipulador. Adorno define o caráter manipulador, o que remete ao seu conceito clássico de consciência coisificada:

“Se fosse obrigado a resumir em uma fórmula esse tipo de caráter manipulador ¾ o que talvez seja equivocado embora útil à compreensão ¾ eu o denominaria de o tipo da consciência coisificada. No começo as pessoas deste tipo se tornam por assim dizer iguais a coisas. Em seguida, na medida em que o conseguem, tornam os outros iguais a coisas” (Adorno, 1995, p. 130).

Um exemplo oferecido por Adorno de consciência coisificada é o que ele chama de “fetichismo da técnica”, que consiste numa idolatria por coisas, máquinas, em si mesmas. O fetichismo da técnica cria uma relação do homem com ela que contém algo de “exagerado, irracional, patogênico”. O que possibilita isso? Para Adorno, a única explicação para isto é a incapacidade de amar. Isto não significa uma defesa sentimental e moralizante do amor, pois tal incapacidade atinge hoje a todos, com diferença de grau. Diante deste quadro, a grande questão é qual é o papel da educação. É neste contexto que Adorno distingue entre os “assassinos de gabinete” e “ideólogos”, por um lado, e aqueles que executam as ações violentas. Ele pensa que contra os assassinos de gabinete e ideólogos a educação pode fazer muito pouco, ela dificilmente poderá impedir seu reaparecimento. No entanto, é possível, através da educação, impedir aqueles que executam as ações violentas de o fazê-lo: os subalternos e serviçais, aqueles que assassinam outros contra seus próprios interesses, assassinando a si próprios e que assim perpetuam sua própria servidão. Esta é a forma como a educação pode cumprir com o seu papel, evitar o retorno da barbárie, o que, segundo ele, é uma questão decisiva para a sobrevivência da humanidade.

No entanto, aqui surge uma questão: é suficiente evitar a barbárie? A educação teria apenas este papel preventivo? Em seu artigo Educação Após Auschwitz esta é a abordagem, em que pese ter alguns elementos que podem abrir caminho para uma concepção mais ampla. No entanto, Adorno, em textos posteriores, avança em suas reflexões e acaba indo além de uma visão puramente preventiva da educação e passa a contemplar também a questão da emancipação. Ele enfatiza, em outros escritos, a questão da emancipação e apresenta uma visão que cria uma ligação indissolúvel entre emancipação e barbárie: promover a emancipação significa combater a barbárie, isto é, são duas faces da mesma moeda.

Não somos os primeiros a fazer este questionamento a respeito do caráter meramente preventivo da barbárie que teria a educação. Ele já foi feito, diretamente, por Helmutt Becker (veja Adorno, 1995). A resposta de Adorno é negativa, pois a educação também deve servir para o processo de emancipação. No entanto, educação para emancipação e educação contra a barbárie são uma única e a mesma coisa.

Em seu debate com Becker, posterior ao texto Educação após Auschwitz, e publicado com o título Educação para quê? Adorno aprofunda a questão da emancipação:

“A seguir, e assumindo o risco, gostaria de apresentar minha concepção inicial de educação. Evidentemente não a assim chamada modelagem de pessoas, porque não temos o direito de modelar as pessoas a partir do seu exterior; mas também não a mera transmissão de conhecimentos, cuja característica de coisa morta já foi mais do que destacada, mas a produção de uma consciência verdadeira. Isto seria inclusive da maior importância política; sua idéia [de H. Becker – NV], se é permitido dizer assim, é uma exigência política. Isto é: uma democracia com o dever de não apenas funcionar; mas operar conforme seu conceito, demanda pessoas emancipadas. Uma democracia efetiva só pode ser imaginada enquanto uma sociedade de quem é emancipado” (Adorno, 1995, p. 141-142) .

Esta idéia de emancipação, segundo Becker, seria demasiada abstrata. Adorno concorda com esta afirmação e avança dizendo que ela é o mesmo que conscientização e racionalidade, que contém, no entanto, um momento de adaptação à realidade. Isto deve ser percebido e a educação não deve evitar o reconhecimento deste momento de adaptação à realidade, pois isto a tornaria impotente e ideológica. Mas a emancipação deve ser enfatizada e por este termo Adorno compreende a visão kantiana, segundo a qual a emancipação se refere ao “homem autônomo, emancipado”, seguindo a “formulação definitiva de Kant”, isto é, para a “exigência de que os homens tenham que se libertar de sua auto-inculpável menoridade” (Adorno, 1995, p. 141).

O homem supera a sua menoridade através da experiência e reflexão. A primeira é condição da segunda. O significado da formação é mais amplo do que a simples introjeção de valores existentes e pré-determinados pois abrange o próprio processo de superação da menoridade, que ocorre através da experiência e reflexão. A experiência, enquanto categoria, nos remete ao empirismo, o contato com o objeto, e ao histórico, nos remete ao processo formativo, onde o indivíduo se torna experiente, elaborando o que o indivíduo acumula, os resultados dos processos anteriores, e o próprio processo (Maar, 1995).

A emancipação, na perspectiva de Adorno, não se refere apenas ao indivíduo como entidade isolada, mas fundamentalmente como um ser social. Ela é pressuposto da democracia e se funda na formação da vontade particular de cada um, tal como ocorre nas instituições representativas. É preciso supor, para evitar um resultado irracional, que cada um possa se servir de seu próprio entendimento. A emancipação é a formação para a autonomia, mas ela só pode ser bem sucedida se for um processo coletivo, já que na nossa sociedade a mudança individual não provoca necessariamente a mudança social mas esta é precondição daquela. A educação deve contribuir, portanto, para o processo de formação e emancipação, contribuindo para criar condições em que os indivíduos, socialmente, conquistem a autonomia.

Após esta breve descrição da concepção de educação em Adorno, podemos partir para uma reflexão crítica a seu respeito. O objetivo da educação, para Adorno, é evitar o retorno da barbárie, o que ele repete incansavelmente. Ele justifica isto devido ao fato de que as condições objetivas que geraram o nazismo permanecem e, por conseguinte, sua possibilidade também. O mundo burocrático, mercantil, competitivo, nos rodeia. Adorno utiliza a expressão “mundo administrado” para dar conta desta realidade. Sem dúvida, Adorno está correto. A sociedade capitalista amplia cada vez mais o processo de mercantilização e burocratização das relações sociais, bem como da competição em todas as esferas sociais, produzindo uma sociabilidade e mentalidade adequadas e reprodutoras deste processo (Viana, 2002a). A sociedade repressiva produz uma mais-repressão, que tende a desencadear energias destrutivas (Viana, 2002b).

E isto já se concretiza em certos grupos sociais, onde a violência se realiza de forma irracional e intransparente. Algumas formas de violência e o crescimento de grupos neonazistas são exemplos confirmadores disto. No entanto, falta em Adorno uma análise histórica mais profunda para perceber que o nazismo, especificamente, não foi um produto destas condições permanentes da sociedade capitalista. O que Adorno não percebe então é que, sendo tais condições permanentes, é preciso explicar por qual motivo o nazismo não retornou em diversas outras oportunidades

Aqui se faz necessário diferenciar possibilidade existente e possibilidade tendencial. Uma possibilidade existente é aquela que existe, isto é, é algo possível, mas sua probabilidade depende da concretização de outras possibilidades. Uma possibilidade tendencial é aquela que não só existe, mas existem forças e elementos que apontam para sua efetivação, tendo uma probabilidade maior de se efetivar, pois o curso dos acontecimentos aponta para sua realização. A possibilidade do nazismo está dada mas sua probabilidade é pequena, dependendo do contexto. Isto significa que o retorno do nazismo é uma possibilidade existente mas não tendencial. É claro que em alguns países e contextos históricos específicos, ele pode se tornar tendencial. Foi o que aconteceu na Alemanha no início do século 20 e a tendência foi prevista pelos integrantes da Escola de Frankfurt e seu estudo sobre a personalidade autoritária.

Para entender o motivo pelo qual o nazismo é possível mas se manifestou somente uma vez, na Alemanha, é necessária uma análise histórica-concreta da situação da sociedade alemã. O problema de Adorno é que, sendo alemão e tendo vivido a barbárie nazista, acabou exagerando a preocupação com o nazismo e generalizando a experiência alemã para a sociedade contemporânea como um todo, ao invés de perceber o processo histórico específico que engendrou este fenômeno nesta sociedade.

Isto não quer dizer que o nazismo só pode surgir na Alemanha. Mas sim que esta sociedade reunia condições históricas e sociais que possibilitaram a emergência do nazismo. Outras sociedades, em situações análogas, geraram o fascismo ou qualquer outro tipo de ditadura. Sem dúvida, o nazismo pode surgir em outra sociedade e esta possibilidade está dada, mas a probabilidade não é tão grande quanto pensa Adorno. Sendo assim, a preocupação de Adorno é correta, retirando o exagero contido em sua análise.

Esta consideração irá intervir na análise que realizaremos da concepção adorniana dos objetivos da educação. Para que serve a educação? Para Adorno, o seu objetivo é impedir o retorno da barbárie, o que nos leva a necessidade de destruir as condições que a tornam possível. É neste contexto que Adorno apresenta a simultaneidade da luta contra a barbárie e da luta pela emancipação. A realização da emancipação é uma luta contra a barbárie, pois a primeira produz um “indivíduo autônomo” e a autonomia é o melhor antídoto contra a possibilidade de retorno da barbárie. Neste aspecto, Adorno se revela um kantiano, um representante contemporâneo da filosofia iluminista. Isto não deixa de ser espantoso. A filosofia iluminista e sua valoração da razão, da autonomia do indivíduo (Viana, 1999; Viana, 2000), é um produto histórico específico, que, embora tenha elementos que ainda podem ser aceitos hoje, em sua totalidade é uma ideologia, no sentido marxista do termo. O racionalismo por detrás da filosofia das luzes obscurece o que alguns denominariam o “irracional”.

As obras de Marx e Freud, ambos citados e influentes no pensamento de Adorno, rompem com o otimismo ingênuo do iluminismo. A razão é constituída socialmente e ligadas a interesses, valores, etc. As representações que os seres humanos criam são sociais e ligadas ao seu modo de vida e interesses e valores derivados daí, e, por conseguinte, as relações sociais determinam o processo racional (Marx, 1983; Marx & Engels, 2002). Freud resgatou não o “irracional”, visão pejorativa do que não seria o “racional”, e sim o mundo do inconsciente, dos desejos reprimidos e mostrou que não existe razão pura, que esta está perpassada pelo inconsciente (Freud, 1978b).

Assim, a solução racionalista é insuficiente. Não basta a educação pregar a emancipação, buscar a autonomia do indivíduo, pois isto está, impossibilitado, a priori, pela sociedade repressiva. Adorno parece compreender isto e por isso realiza a oposição entre o subjetivo e o objetivo:

“Como hoje em dia é extremamente limitada a possibilidade de mudar os pressupostos objetivos, isto é, sociais e políticos que geram tais acontecimentos, as tentativas de se contrapor à repetição de Auschwitz são impelidas necessariamente para o lado subjetivo” (Adorno, 1995, p. 121).

Tal oposição em si é questionável. Na verdade, o “objetivo” e o “subjetivo” não são distintos, são uma unidade indissolúvel e somente no reino da ideologia é possível separá-los. A razão não pode ser separada das relações sociais. O veículo da emancipação, a educação, também não. A educação é tão coisificada quanto qualquer outro processo social. Aliás, Adorno aqui deixa de lado a categoria da totalidade, fundamental para o método marxista, e ressaltado por diversos autores (Korsch, 1977; Lukács, 1989; Kosik, 1989; Viana, 2002c). A educação é perpassada pelo mundo administrado e competitivo denunciado por Adorno.

Como seria possível, então, esta “educação para a emancipação”? Como os educadores, indivíduos com consciência coisificada, como quaisquer outros, poderiam reverter a lógica das relações sociais na escola, o peso da burocracia escolar, da competição, das relações mercantis? As crianças e os alunos em geral estão submetidos a este mundo concentracionário, carregando seus valores, reproduzindo a consciência coisificada, que é mais um obstáculo externo para uma educação emancipadora.

E mesmo que fosse possível uma tal educação emancipadora, qual efeito ela teria sobre aqueles que teriam acesso a ela? Pessoas que vivem num mundo repressivo, com as relações familiares, a mesma convivência com pessoas de consciência coisificada, com o predomínio da técnica e tecnologia, com o processo de dominação, competição, burocratização e mercantilização perpassando o conjunto das relações sociais, poderiam, apenas através do processo educativo, se emancipar? Será que uma educação voltada para a razão num mundo sem razão poderia ter algum efeito? O discurso da cooperação poderia romper com a mentalidade competitiva oriunda de uma sociedade competitiva? O discurso da igualdade e da liberdade teria efeito num mundo burocrático e autoritário em que vivemos? O discurso humanista teria eficácia na sociedade mercantil, coisificada?

Mas isto seria um questionamento tomando a educação como sendo emancipadora, o que, na verdade, é um pressuposto questionável e o próprio Adorno, ao falar da competição nas escolas (que é apenas um dos elementos presentes nela) mostra que a escola e a educação em geral estão longe de ser emancipadoras e estão intimamente ligadas a esta sociedade repressiva, compartilhando com ela a repressão dos indivíduos.

O problema da concepção de Adorno é que ele não percebeu que a totalidade da sociedade capitalista é repressiva e que, portanto, não é possível destacar e isolar uma parte dela e atribuí-la o projeto de libertação humana. A libertação humana é um processo social que requer agentes sociais e estes estão ausentes na concepção adorniana. O curioso é que Marx, um pensador que exerceu influência sobre Adorno, não tenha sido resgatado por este para efetivar esta análise. A ausência de uma análise das relações sociais concretas, dos fundamentos da sociedade repressiva, fundada no modo de produção capitalista e na luta de classes que o caracteriza, não permite a Adorno ultrapassar uma visão ilusória do processo de emancipação humana.

Se como diz Adorno, a possibilidade da superação dos “pressupostos objetivos” é “extremamente limitada”, então é necessário perceber que, devido à ligação indissolúvel entre o “subjetivo” e o “objetivo”, do “lado subjetivo” a mesma dificuldade existe. A dificuldade é simultânea, pois a esfera da consciência, da cultura, da educação, tem sua gênese nas relações sociais da sociedade repressiva e, por conseguinte, traz em si a sua marca. Não há como mudar a “subjetividade” sem mudar “as condições objetivas” e vice-versa, pois na verdade, tal distinção é metafísica. Assim, o projeto de uma educação emancipadora é limitado pois não percebe a necessidade de um projeto mais amplo, englobando o conjunto das relações sociais, que é condição de possibilidade para sua concretização. A tese adorniana de que a possibilidade de mudar as “condições objetivas” é limitada é falha por não perceber que a mesma limitação se encontra nas “condições subjetivas”, pois elas são da mesma natureza e estão entrelaçadas. Assim, a busca da transformação social deve atuar simultaneamente sobre as relações sociais e sobre a cultura, onde a educação possui um papel importante.

Sendo assim, a proposta de Adorno é puramente equivocada e deve ser descartada? É preciso reconhecer que existem elementos na análise de Adorno que são fundamentais para a compreensão da dinâmica da sociedade contemporânea. Sua proposta para a educação não é totalmente equivocada. Porém, é limitada e é a superação desta limitação que pode fazer com que sua proposta se torne exeqüível.

A superação desta limitação pressupõe compreender a necessidade de uma nova educação, mas ao lado disso é preciso pensar uma nova escola, novos educadores, como também transformação em diversas outras esferas sociais, tais como nas relações familiares, etc., tudo isso visando abolir as condições de possibilidade do retorno da barbárie, ou seja, abolir o conjunto das relações sociais que tornam possível o nazismo e fenômenos semelhantes. O próprio Adorno parece ter percepção disto quando afirma que não se trata de “pregar o amor”, pois é necessário mudar a ordem social:

“Um dos grandes impulsos do cristianismo, a não ser confundido com o dogma, foi apagar a frieza que tudo penetra. Mas esta tentativa fracassou; possivelmente porque não mexeu com a ordem social que produz e reproduz a frieza” (Adorno, 1995, p. 135) .

Da mesma forma, pregar a educação emancipadora para evitar a barbárie sem mexer na ordem social que a produz e reproduz levará fatalmente ao fracasso. Mas parece que Adorno não percebe isto e assim repete o mesmo erro que aponta no cristianismo. Toda e qualquer reforma puramente cultural ou intelectual está impossibilitada se não for acompanhada por mudanças nas relações sociais concretas.

A proposta de Adorno pode ser resgatada em vários aspectos, desde que de forma crítica e ampliada, englobando a educação extra-escolar, a luta política extra-institucional, as relações de trabalho, as relações sociais nos locais de moradia e estudo, nos movimentos sociais, isto é, no conjunto das relações sociais, abarcando que Korsch denominou “totalidade histórica” e trazendo em si aquilo que Decouflé (1976) denominou “projeto revolucionário”. Assim, o projeto adorniano de uma educação emancipadora ganha sentido e concreticidade, podendo contribuir com o processo de libertação humana.

Referências

Adorno , T. Educação e Emancipação. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1995.

Decouflé , A. Sociologia das Revoluções. São Paulo, Difel, 1976.

Freud , S. Esboço de Psicanálise. In: Col. Os Pensadores. São Paulo, Abril Cultural, 1978.

_____, S. O Futuro de Uma Ilusão. In: Col. Os Pensadores. São Paulo, Abril Cultural, 1978.

Korsch , K. Marxismo e Filosofia. Porto, Afrontamento, 1977.

Kosik , K. Dialética do Concreto. 4a edição, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1989.

Lukács , G. História e Consciência de Classe. 2a edição, Rio de Janeiro: Elfos, 1989.

Maar , W. L. À Guisa de Introdução: Adorno e a Experiência Formativa. In: Adorno, T. Educação e Emancipação. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1995.

Marx , Karl & Engels, Friedrich. A Ideologia Alemã (Feuerbach). 3a edição, São Paulo, Martins Fontes, 2002.

Marx , K. Contribuição à Crítica da Economia Política. 2a edição, São Paulo, Martins Fontes, 1983.

Viana , N. A Filosofia e Sua Sombra. Goiânia, Edições Germinal, 2000.

_____, N. “Cândido, de Voltaire: A Auto-Imagem do Iluminismo”. Fragmentos de Cultura/UCG. Goiânia/Go., Vol. 9, no 1, jan./fev. de 1999.

_____, N. Inconsciente Coletivo e Materialismo Histórico. Goiânia, Edições Germinal, 2002b.

_____, N. “Universidade e Especialização: O Ovo da Serpente”. Revista Espaço Acadêmico. Maringá/PR, ano 2, no 18, março de 2002c.

_____, N. “Universo Psíquico e Reprodução do Capital”. In: Quinet, Antonio e outros. Psicanálise, Capitalismo e Cotidiano. Goiânia, Edições Germinal, 2002a.


(1)Professor da UEG – Universidade Estadual de Goiás; Sociólogo; Especialista em Filosofia/UCB; Mestre em Sociologia/UnB e Filosofia/UFG; Doutor em Sociologia/UnB. E-mail: nildoviana@terra.com.br

Jornal Corujinha - Premiação do Prof. Jairo como "Amigo da Filosofia" no IV Congresso Nacional de Filosofia Educar para o Pensar


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Corujinha 59

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TECNOLOGIAS QUE IRÃO MUDAR A UNIVERSIDADE




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quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

UOL - Notícias por e-mail

Enem 2009: MEC regulamenta sistema que dará vagas em universidades e institutos federais

UOL Educação - Enem - 27/01/2010
http://educacao.uol.com.br/ultnot/2010/01/27/ult1811u529.jhtm

Jairo Garcia

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Defesa Civil recebe donativos ao Haiti

A Defesa Civil do DF aderiu a uma ação nacional em socorro aos atingidos do Haiti. A partir desta segunda-feira (18), estaremos recebendo doações em sua sede em Ceilância – QNM 18 Área Especial S/Nº, ao lado do Quartel do Corpo de Bombeiros. O horário de recebimento é de 8h as 18h.

Neste primeiro momento receberemos somente água e alimentos prontos para serem consumidos, não perecíveis (com prazo de validade de pelo menos três meses), pois são as necessidades mais urgentes.

Não serão recebidas doações em dinheiro, alimentos que necessitem de preparo para serem consumidos, material de limpeza, de higiene pessoal, roupas e calçados.


fonte: Agencia Brasília

Olá caros amigos do Blog!
Depois de um tempo em hibernação, me sinto impelido intelectualmente a voltar ao blog para continuar escrevendo, colocando textos, mantendo algumas pessoas que o seguem informados sobre os diversos temas de interesse do mesmo.
Me recuperei muito bem de minha cirurgia, mas isso tem muito tempo.
Bem vindo a 2010 e a este blog.