quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

AÇÃO POLÍTICA EM HANNAH ARENDT

AÇÃO POLÍTICA EM HANNAH ARENDT

Hannah Arendt destacou-se por ser sensível à crise de valores, à erosão dos espaços públicos, à domesticação das massas pelas artimanhas do capital e pelas ilusões consumistas, à destruição da cultura política e do culto aos valores públicos e comuns, à perseguição anti-semita e à castração da liberdade. Sua filosofia política não aponta para a inação, e sim distingue, no horizonte, os germens da esperança decorrentes do renascer contínuo da política pelas possibilidades abertas pela condição de natalidade.

Diferente do que vinha sendo pensado e buscado até então pela Filosofia, Hanna Arendt vai se interessar por quem é o ser humano e não o que é o ser humano ou o Ser, pois pensar em política é pensar em questões humanas e não em questões metafísicas. Uma de suas preocupações é perguntar se o homem se desenvolveu com o avanço tecnológico? Segundo ela não, tudo tem ofuscado o agir humano, isto é tem colaborado para o esquecimento da ação, o homem age, mas não tem vida activa. Segundo ela, o conceito de política se perdeu, ficou esquecida e busca resgatá-lo, busca chamar a atenção para o problema da ação.

Á vida entendida como labor não cria, não produz nada, nem a política, ela é regulada por necessidade metabólica visando preservação da espécie. Essa atividade não deixa resultados e se consome e se encerra em si mesma. Só torna a vida mais fácil e mais longa, sendo a atividade elementar do homem entendido como Animal Laborans.

No ser humano há a dimensão de mundanidade que implica em, além de outras atividades, transformar o que é natural em algo útil, em mundo, no entanto, este mundo artificial também o condiciona, isto é, o mundo fabricado pelo homem pode se voltar para ele o condicionando como sistema de valor e é esta a atividade do Homo faber (homo poiéticos). A vida entendida como Work (trabalho, ato de fabricar, obra) é a busca do ser humano mortal tendendo a sua imortalidade via trabalho, como produtor de cultura que tenha durabilidade para além da vida humana, tornando o mundo mais útil e mais belo, no entanto, para Arendt, só podemos falar em política, em atividade política quando pressupomos a vida como vida activa, uma vida fundada na práxis, na ação. Pela ação, entendida como pluralidade, é possível a convivência no mundo visto como espaço público que ao mesmo tempo separa e reuni.

A ação surge na pluralidade e não é necessária e nem útil e está vinculada à natalidade. A ação nasce deste encontro e o ser humano decide em buscar a imortalidade e não só a necessidade e utilidade. Toda ação tem de ser imprevisível, pois não é fabricação, não tem um fim a ser alcançado como o imaginado. Imprevisibilidade e irreversibilidade têm de está como base de entendimento sobre política, pois só o ser humano é dotado de poder de linguagem sendo capaz de prometer e perdoar e assim ele é um ser político antes de ser social. A política não é um artefato, ela é atividade que gera poder na pluralidade consensual. A ação só pode se dar via discurso que leva o ser humano a agir e a se revelar, se percebendo como agente (ativo) e não como ator.

Ação, liberdade e política são coisas entremeadas num único nó de sentido que faz com que quando se vê um desses elementos afetados, os demais passam a sofrer por sua restrição, assim a liberdade está condicionada pela ação. Os homens só são livres enquanto agem, pois agir e ser livre são a mesma coisa. Ser capaz de ação e ser capaz de criar são coisas coincidentes.

Cf. ARENDT, Hannah. A condição humana. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1987, p. 15-20

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