quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

NIETZSCHE E A GRANDE POLÍTICA

NIETZSCHE E A GRANDE POLÍTICA

Muitos tem afirmado que Nietzsche não teve uma preocupação política, que não é um pensador político e o vê somente como um filósofo que coloca em xeque a tradição, seja ela metafísica, religiosa, romântica ou de classes. No entanto, desde as primeiras décadas do século passado é possível pensar em um projeto sócio-político baseado em novos conceitos através da análise seus de fragmentos póstumos via grandes pensadores como Gilles Deleuze e Gatarri, Oswaldo Giacoia, Carlos Henrique de Escobar, Henning Ottmann, Keith-Pearson, entre outros.

Nesta perspectiva nada simples, a política não pode ser tomada como um problema marginal, mas como um precioso fio de Ariadne que nos propiciará irmos em direção à transvaloração de todos os valores. Assim, Nietzsche critica a tradição filosófica grega (na figura de Sócrates, Platão e Aristóteles), o cristianismo (neo-platonismo de massa) e a modernidade política, entre este Kant defensor da moral do dever e de uma harmonia universal consciente. Vê no pensamento nômade e na tragédia grega o seu escopo de análise. Remete seu pensamento à época grega antes do advento da filosofia racional continental, fase da elevação dos chamados aristós: os melhores. Lá na fase trágica, mítica e, posterior, denominada pré-socrática está a base para se pensar nos fundamentos da política. È, em especial, nos pré-socráticos que tem-se a unidade complexa de pensamento e vida e que foi desvalorizada pelos seus contemporâneos. A base está nos acontecimentos, pensamentos, feitos e concepções anteriores ao advento da Filosofia pós-socrática (período de filósofos decadentes, anti-políticos e sofísticos).

Para ele somos multiplicidade e não equivocadamente, como quer a tradição política, a igualdade democrática (calçada numa filosofia ideal grega e num liberalismo burguês cristão) que é a nivelação dos fracos por baixo. Tese esta de dominação e de violência que suprimi a diferença, rebaixando o Homem a homens executáveis, maquináveis, reduzido-os a meros consumidores utilitários do ideal de felicidade, conforto, segurança e bem-estar, defendendo a compaixão como modelo base. Para o Nietzsche, no entanto, a compaixão traz a fraqueza e o esquecimento da dimensão de si e do outro, o enfraquecimento do Homem e a conseqüente banalização da existência. A humanidade perde a sua dimensão de grandeza e singularidade para condenar-se á mediocridade anônima do rebanho uniforme de anões hedonistas e autocomplacentes com vontade de poder recalcada. Chama a este movimento nivelador de reificação. Defende que a humanidade não se destrua em tal governo castrador de potencialidades e oferece como contraposto um conhecimento da cultura que até agora não foi atingido.

O chamado projeto da “Grande política” é baseada no contra senso, no contra movimento, na disputa entre ser e devir, triunfante sobre a tendência dominante e degenerativa denominada pequena política. É um programa filosófico que deseja propor a vitalidade da exceção contra a regra, criadora e deliberadora. Visa discutir a possibilidade da experiência das condições propicias para o surgimento de uma nova aristocracia do espírito, de uma raça mais forte, forte em vontade, responsabilidade, certeza de si mesmo, e tendo poder de instituir metas. Defende a metáfora do médico, do artista e do legislador como novos e autênticos valores. A “Grande Política” é um termo que deve ser entendido provisoriamente como alargamento de sentido e horizonte para a natureza da questão política. Defende a necessidade de trazer ao “dia” um tipo de ser humano mais vigoroso, que alegoricamente pode ser entendido como o Além-homem, um homem sintético, somatório, justificador que tem na maquinação anterior seu aporte para reinvertar-se como forma superior de ser.

Urge um novo questionar sobre a humanidade, um novo pra que? Isto nos levará a pensar numa inusitada percepção de grandeza, de individualidade, de liberdade como base de desenvolvimento positivo. Faz-se necessário despertar pensadores engajados, comprometidos com este ideário de futuro, espíritos livres, fortes e originários, reveladores de antagonismos e possibilitadores de transvaloração de valores “eternos”, tendo como dever último tomar nas mãos ferramentas (martelo e cinzel) que possam delinear um novo porvir de autodeterminação. O isolamento, o esforço de preservação de si próprio, o egoísmo virtuoso são meios de cultivo desta grande individualidade.

È o projeto de uma raça afirmadora, uma nova aristocracia de espírito, uma raça com esfera vital própria, bela, corajosa, com força cultural e espiritual. O caminho é da auto-superação, do elevar-se , ascender-se. Raça esta superior com a mente instruída, desenvolto na sua corporaneidade, tendo a si como referencial e que goze a inteireza de sua natureza. Este é o ser da afirmação e não o da negação, este é o homem dionisíaco que se mantem e sabe apenas dançar e ser palhaço frente ao abismo, carregando a força cultural acumulada e assumindo como dever a legislação da tábua de novos valores. É o projeto do inventor de novos capítulos no drama do destino da alma.

Neste projeto-conceito não existe consolo ou justificação metafísica, científica ou ética para a existência o que há é a possibilidade de auto-determinação do homem. Este novo homem busca a conquista de mais vida e esta é tida como vontade de potencia ativa que cria e vive e ao adquirir mais vida doa em abundancia, sem comercializar.

Nietzsche não visa ser um autor de sistema, um recodificador, construtor de códigos, regras, manual, mas busca, com este projeto-conceito, estabelecer uma decoficação em absoluto e, em seguida, oferecer uma reterritorialização, uma nova cartografia. Fala em uma cultura integradora da sexualidade (desejo), do impulso, do afeto, do que emerge, pensando a partir da pluralidade e não do sujeito, porém possibilitando a realização de cada um. Afirma ainda que antes de sermos políticos com o outro (macro-política) temos que ser político conosco, produzirmos a nos mesmos, sendo simultaneamente, criatura e criador e que sabe piscar os olhos quando enxerga a felicidade.

Pode-se perceber que Nietzsche não escreve com flores, mas com fluxos de vida, com vitalidade, visando o alastramento de uma nova mentalidade transformadora e contínua perante esta existência que perdeu o sentido, absurda.

2 comentários:

Prof. João Gonçalves disse...

Oi Jairo!

Parabéns!

Visitarei seu blog de vez em quando!

Jurema disse...

Gostaria que me enviasses tudo o que tiveres sobre este autor. Pois tenho um trabalho de Filosofia de Direito para fazer e terei de falar sobre ele. Obrigada